Resposta imune dos pacientes infectados pelo SARS-CoV-2: um estudo transversal
RESUMO:
A COVID-19 é uma infecção respiratória causada pelo SARS-CoV-2 e marcada por uma resposta inflamatória intensa e desregulação imunológica nos casos mais graves. A fim de esclarecer melhor a relação entre as alterações do sistema imune periférico e a gravidade da doença, este estudo teve como objetivo avaliar o perfil imunológico dos pacientes com COVID- 19. Para isso, 157 pacientes com COVID-19 foram estratificados em doença leve (n = 36), moderada (n = 30), grave (n = 32) e crítica (n = 59). Os componentes celulares e citocinas circulantes foram avaliados por citometria de fluxo. As concentrações de óxido nítrico (NO) e mieloperoxidase (MPO) foram medidas por testes colorimétricos. Os resultados foram comparados com 30 controles saudáveis. Diante disso, os pacientes com COVID-19 apresentaram neutrofilia relativa e absoluta, com sinais de mielopoiese de emergência, principalmente nos quadros mais graves. Os neutrófilos também apresentaram aumento da expressão de CD62L, nos quadros moderado à crítico, quando comparados ao grupo controle e pacientes leves. Além disso, foi observado o aumento da relação neutrófilo-linfócito (RNL) nesses pacientes, devido ao aumento dos neutrófilos e redução de linfócitos. A redução de linfócitos ocorreu em linfócitos T e B, mas principalmente nas células T, que não apresentaram aumento na sua diferenciação, apenas nos pacientes com quadro leve. Dentro do compartimento de células T, em pacientes com quadro leve a crítico, também foi observada a redução das células T regulatórias (Treg), o que pode perturbar o equilíbrio entre as funções reguladoras e efetoras do sistema imune, pois essas células evitam uma resposta imune exacerbada. O compartimento de células B também apresentou diversas alterações, com redução das células B de memória (BM) e aumento de plasmablastos, especialmente nos pacientes com quadros mais graves de COVID-19. Os pacientes com COVID-19 também apresentaram sinais de imunossupressão, observados pela redução da expressão de HLA-DR (MHC-II) em monócitos nos pacientes com quadro grave e crítico. Além disso, esses pacientes apresentaram aumento da frequência de monócitos clássicos (cMo) e redução de monócitos não clássicos (ncMo). Essas células também demonstraram aumento de marcadores atípicos, como o CD56, o que parece estar associado com a gravidade da doença. Em relação ao compartimento de células dentríticas (DCs), os pacientes com COVID-19, com quadro moderado à crítico, apresentaram redução das DCs plasmocitoides (pDC) e aumento das DCs clássicas (cDC). No entanto, os valores absolutos das DCs se demonstraram reduzidos nesses pacientes. Por fim, os pacientes com COVID-19 apresentaram aumento de MPO, interleucina (IL)-12, IL-6, IL-10 e IL-8, acompanhado de redução de IL-17A e NO. As concentrações elevadas de IL-10 e a contagem relativa de neutrófilos demonstraram estar relacionados à mortalidade, o que torna esses parâmetros possíveis biomarcadores de prognóstico para os pacientes com COVID-19. Os resultados deste estudo indicam a presença de efeitos no sistema imune induzidos pela COVID- 19, que parecem estar relacionados à fisiopatologia da doença.
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